Meninos vestem rosa e azul, e meninas também!

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Outubro e novembro são conhecidos como meses relacionados a estratégias para a prevenção de dois tipos de câncer bastante prevalentes, o de mama e o de próstata, respectivamente. E como sobrenome de cada um desses meses há uma cor, rosa e azul, as quais não foram colocadas inocentemente.

Por um lado, é muito importante reforçar que estímulos para que as pessoas conheçam melhor os seus corpos e que tenham uma atenção maior à sua saúde são fundamentais! Porém, meu objetivo é problematizar alguns pontos, começando pelo fato de que somos superiores a um mero exame, como a mamografia ou o “PSA”. A saúde de mulheres e homens não deve se basear apenas em iniciativas para que realizem com maior regularidade tais procedimentos.

É preciso ir além, incentivando a prática regular de atividade física, uma alimentação saudável, o controle do estresse, o controle de doenças crônicas e mais que tudo, a redução de desigualdades sociais, marcadas por gênero, cor da pele, local de moradia ou uma diversidade corporal.

Isso porque vivemos numa sociedade marcada por inequidades, as quais controlam inclusive as possibilidades de acesso à saúde e à cidadania, exemplificado no fato de que a expectativa de vida não é a mesma se compararmos bairros próximos de uma mesma cidade.

Ademais, reduzir cada mês potente como estes a uma cor também exclui pessoas que estão invisibilizadas ou não representadas na norma heterossexual e cisgênero. Por exemplo, realizei uma pesquisa nacional em 2019 e 2020, na qual reuni dados de quase 7 mil pessoas com mais de 50 anos, e enquanto a taxa de realização da mamografia pelas mulheres heterossexuais foi de 74%, entre as lésbicas e bissexuais esse número despencou para 40%.

Mais ainda, o binarismo de “meninas vestem rosa e meninos azul” exclui as pessoas trans dessas campanhas. Basta lembrar que mulheres trans apresentam próstata e que homens trans, se não tiverem feito mastectomia, devem manter o rastreio de câncer de mama com a mamografia.

Uma sociedade rica e saudável aprende que todo mundo tem um “dom” e, dessa forma, não pode ficar para trás. O ódio, pelo contrário, não é inocente. Serve de plataforma de mobilização de pessoas que tem pouco ou nenhum projeto para a inclusão e uma vida melhor para todos, e é utilizado para criar pânico, mobilização e poder. E como algo ensinado, pode ser desaprendido.

Por isso, vou logo ali colocar minha camiseta rosa e talvez uma meia azul, porque, além de confundir a cabeça dos conservadores, me sinto ótimo com essas cores.



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