renasci do câncer

“Depois do câncer, renasci com uma câmera nas mãos”

Em 2014, perdi minha mãe para o câncer. Foram anos de luta e desgaste que, juntamente com outras coisas que estavam acontecendo em paralelo, me deixaram com depressão e com síndrome de burnout. Tínhamos apenas 16 anos de diferença. Ela era uma grande amiga, incentivadora, mãe e sócia em nosso negócio em São Paulo.  Em seu último ano de vida, tentei ficar forte por ela até o último momento.

Quando ela faleceu, em outubro daquele ano, desabei e, na sequência, descobri que havia desenvolvido um tumor no pâncreas. A cirurgia de retirada ocorreu exatamente um ano após o falecimento de minha mãe. Extraíram três órgãos e, 30 dias depois, veio a biópsia com resultado negativo para o câncer.

Disse ao meu marido que, se eu escapasse da doença, iria fazer o que prometi aos meus filhos: moraria um tempo nos Estados Unidos. Assim eles poderiam ter uma experiência de cultura diferente e aprenderiam o Inglês definitivamente.

Aos 46 anos, depois de ter sido liberada pelos médicos dos tratamentos no Brasil, iniciei uma nova vida no hemisfério norte. Em maio de 2016, cheguei com minha família em uma pequena cidade do interior de Connecticut chamada New Milford. Eu já havia morado aqui entre 1999 e 2001, durante uma experiência de trabalho. Então, me pareceu confortável retornar. Instalei-me na casa de amigos por um mês e já comecei a trabalhar como cuidadora de idosos. E fui aperfeiçoando o inglês, pois comunicação é poder. Também passei por serviços de limpeza de casas e atuei como babá.

Tinha pós-graduação no Brasil, mas, quando nos submetemos a este tipo de mudança drástica em nossas vidas, temos de estar dispostos a tudo, abraçando as novidades que Deus e o Universo trazem. Também preciso mencionar os livros Men Search for Meaning, Quando Deus não faz sentido, Quando coisas ruins acontecem a pessoas boas, e todos os Ted Talks sobre neurociência, felicidade, plasticidade do cérebro, superação de desafios, tristeza e tantos outros que me auxiliaram no processo pelo qual eu estava passando. Certamente, eles me ajudaram a traçar um caminho para o futuro, vivendo um dia de cada vez.

Uma sessão de fotos é uma terapia para a alma

Depois de um tempo, comecei a carreira como fotógrafa sem saber absolutamente nada. Nunca imaginei que aprenderia o bicho-papão do Photoshop e sairia do modo manual da câmera. Mas consegui! A fotografia veio como forma de abstração da realidade. Uma vez que havia passado por eventos traumáticos recentes, inclusive com o fechamento do meu negócio no Brasil. 

O trabalho como cuidadora de idosos era bem intenso e exigia muita atenção e cuidados. De maneira que, ao término do dia, procurava me presentear com o belo, com o simples, de forma contemplativa, e acabei ganhando minha primeira câmera de meu marido. Foram três anos apenas experimentando street photography e me permitindo me alimentar do bem-estar que aquilo me proporcionava.  A fotografia compensava os dias cansativos, trabalho árduo e diferenças culturais.

Minha maior realização foi abrir meu próprio estúdio em maio de 2022.  Hoje, aos 53 anos, minha missão é empoderar mulheres, jovens e crianças por meio da fotografia. Porque a condição de imigrante não é fácil, principalmente a do imigrante ilegal, que acaba vivendo nas sombras para não ser identificado. Uma nuvem de incerteza os acompanha e isto afeta a autoestima.

Tive a oportunidade de conhecer brasileiros de todos os cantos do país. Pessoas humildes que vieram pelo México, outras que chegaram pelo aeroporto, as que pagaram coiotes, as que arriscaram suas vidas e que trabalham dia e noite para tentar avançar nesta corrida maluca da sobrevivência. A maioria delas nunca teve a oportunidade de fazer ensaios fotográficos no Brasil. Então, eu incentivo essas mulheres a se darem a oportunidade de se verem através de minhas lentes.

O resultado do ensaio é sempre surpreendente. É um chá de autoestima. A fototerapia faz a pessoa se sentir linda, como ela jamais se viu. Ela se conscientiza de que é a prioridade, pois priorizou tudo e todos e se deixou de lado por muito tempo. Mas agora está se encontrando consigo mesma. Confesso que tenho chorado com mulheres que se perceberam belas depois de muitos anos de anulação. Escrevo com luz uma nova trajetória de beleza e amor-próprio em suas vidas.

A novidade é que, depois de quase oito anos aqui em Connecticut, eu e minha família decidimos retornar ao Brasil em dezembro de 2024. Vamos recomeçar. Estamos felizes e empolgados em voltar com nossas novas habilidades e com muitas saudades de lugares, comidas e, principalmente, do nosso povo.

*Relato da paulista Mara Maia.

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Uma resposta

  1. Minha Xará Maraaaaaa uma pessoa espetacular , adoramos tanto conhecer e ficamos triste pela sua partida ao msm tempo felizes por estar com todos q amam( um dia tb retornaremos se Deus quiser), desejamos muita luz nessa jornada. Vc foi um amor c meus pequenos obg pelo carinho e atenção de sempre e espero vê-la novamente por aí .

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